(Parque do Ibirapuera, outubro 2009)
Ela não entendia como era feito o algodão doce. Mas era algodão? Aquele de limpar machucado? E como ele era doce? E, se era de açucar, como é que ele ficava colorido? Mas todas as dúvidas ficavam para trás quando via o tiozinho carregando o tabuleiro colorido – sendo feito do modo que fosse, uma coisa era certa: ela amava algodão doce! Gostava de colocá-lo na boca e não mexer a língua até que ele começasse a derreter, sozinho… até que o gostinho doce invadisse a boca toda. Outras vezes gostava de puxá-lo em pequenos fios e transformá-los em uma bolinha consistente, com formato de balinhas, que ela juntava para sorvê-las todas de uma só vez. Quando ainda mais inspirada, gostava de dar formas ao doce, fazer pequenas nuvens que eram levadas lentamante à boca. Gostava de imaginar que as nuvens do céu também eram doces, mas temia que a chuva pudesse derretê-las todas.
Um dia ele a levou até um carrinho onde mãos velhas e habilidosas giravam, giravam e transformavam um palito vazio no chumaço doce e colorido que ela tanto amava. Descobriu então como eram feitos e, a partir desse dia e durante muito tempo depois, desejou ter aquela máquina mágica e viver cercada de algodão doce colorido. Nunca revelou o desejo a ninguém, mas tinha esperanças de que um dia, num Natal qualquer, ganhasse a tal maquininha.
A máquina nunca veio e a menina cresceu, mas até hoje toda vez que vê um tabuleiro colorido, um sorriso doce e discreto aparece em seu rosto…. porque no fundo, lá no fundo ela sabe…
Ela nunca vai desistir da máquina. Nunca :)
*post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar
2 Comentários
Patrícia
24 de fevereiro de 2017 at 7:07Faby, parabéns!
Que texto lindo… sabe, bateu uma saudade… eu, mesmo sem mãos velhas e habilidosas, já fiz algodão doce, já girei muitos palitos vazios até ficarem uma nuvem colorida… quase chorei ao ler essa pequena pérola!
Pois é, a magia aconteceu há muitos anos (peraí, deixa contar… 21… nossa, tudo isso???), quando trabalhei numa barraquinha de doces de um mercado de Natal na Alemanha. Imagina só, a genta vendia amêndoas e nozes caramelizadas, pipoca, espetinhos de fruta com chocolate e mais um montão de coisa doce docinha! E claro: algodão doce! Eu e as outras meninas, estudantes querendo incrementar um pouco a mesada, éramos mais responsáveis pela parte “comercial” (= atender clientes), as coisas complicadas (digo, carameladas) só o chefe e a esposa é que faziam. Mas de vez em quando era preciso “pôr a mão na massa” e cortar frutas, fazer os espetinhos, colocar mais milho na pipoqueira e — adivinhou — girar o palito nesse fiozinho de açúcar! Oh, coisa boa!
Mesmo sabendo fazer (será? Como é que o açúcar entra em cristais e sai assim fininho, que parece uma teia de aranha?), para mim essa transformação nunca vai perder a magia, fico vidrada a olhar para as maquininhas, sempre que vamos a uma feira… e não, nunca resisto a comprar quando os filhotes pedem!
Beijos,
Patrícia
PS – descobri o site só ontem (pode, uma dessa?), mas já estou doida guardando receitas na lista para fazer mais tarde… vou continuar lendo!
Faby
24 de fevereiro de 2017 at 14:54Oi Patrícia, que delícia ter “pilotado” a máquina mágica! <3
Algodão doce é poesia em forma de doce :)
Um beijo e que bom tê-la por aqui.