
Elas são sempre lindas, iluminadas na medida certa, todos os elementos se harmonizam (inclusive os improváveis, como as misturas de padronagens e de cores que se tem como “incombináveis”). As toalhas são impecáveis, os talheres são brilhantes, os copos então…. pffff, reluzentes! Se tem grama, ela é verdinha, aparada… se a festa é interna, as paredes tem pinturas novinhas, janelas com paisagens incríveis ou cortinhas que querem parecer displicentemente desarrumadas (mas que devem ter custado horas da diretora de arte). As cadeiras, mesmo sendo completamente diferentes umas das outras, casam-se perfeitamente. A mesa tem o tamanho certo, a louça é linda, a comida… bem, você já viu comida de revista que seja feia?
As festas de revista parecem mágica pura. De tão lindas, você tem vontade de fechar os olhos e estar lá – uma taça de champagne nas mãos, um vestido em tom de nude todo fluído, um cabelo com cachos cuidadosamente desarranjados e sapatilhas de princesa. Ou, sei lá, a festa tem uma pegada mais hardcore (mas ainda assim linda, biensur) e você se vê logo toda trabalhada no batonzão vermelho, fazendo caras e bocas à meia luz, com um drink nas mãos curtindo um jazz ao lado das pessoas tão lindas quanto você, que com certeza estarão nessa festa.
Em festa de revista as pessoas sempre são lindas, sempre estão mostrando os dentes, sempre estão impecáveis – oras, é uma festa afinal! Isso quando a festa tem pessoas, claro. Porque em fotos de ambientação muitas vezes o elemento é humano é completamente dispensável. O que importa é a disposição milimétrica dos elementos à mesa, os cupcakes perfeitos e tinindo de bonitos, o finger food intacto, a champagne perfeitamente encaixada no gelo e as flores tão vivas que mal se lembra que elas não nasceram naquele vaso de cristal.

Daí você se transporta para aquele mundo mágico e começa a se coçar para dar uma festa também. Bom… você não tem aquele jardim tão lindo mas, afinal, quem tem um quintal ou uma varanda já pode acreditar em uma festa externa (ou ao ar livre, pra ficar mais glam). Talvez você precise de mais cadeiras, mas isso se pode arranjar com as boas e velhas cadeiras de PVC brancas, ou improvisar com os pufes da sala. E você reza para que haja tempo de fazer umas capas para as cadeiras ou arranjar umas almofadas lindas e coloridas, como as da revista, claro. Daí você checa a louça e se joga com força no conceito de que tudo-junto-misturado é que é bacana (na revista estava assim!) e acha que está tudo sob controle. Os talheres, tirando aqueles com cabo azul de plástico, até que dão para o gasto… talvez quem sabe se você conseguir separar um tempinho para passá-los pelo limpador de alumínio e uma boa lustrada… Tem a toalha também. A sua é bonita, talvez não com aquela padronagem escândalo da festa da revista… talvez uma pequena manchinha aqui e ali, coisa quase imperceptível, claro. E os guardanapos de pano?! Ah, tem que ter guardanapo de pano (que no dia seguinte você vai se esfalfar para tirar as manchas de vinho e batom, claro) e eles tem que estar em perfeita harmonia com as toalhas e com a louça, ainda que eles sejam completamente diferentes.

Ok, você separa tudo e dá uma olhada pra ver se todos os elementos parecem feitos um para o outro. É… veja bem, tirando uma coisinha aqui ou outra alí, você consegue sim enxergar a tão sonhada harmonia (é ela que vai fazer sua festa ter aquela aura de festa de revista). Então, você parte para o cardápio.
Primeiro as bebidas – nas revistas não há garrafas de plástico de refrigerantes na mesa e, se houver, elas serão de vidro ou estarão completamente inseridas no conceito pop-art-moderna. Tá, então você lima aquela coca de 2 litros da sua festa e investe com força nas jarras de água aromatizada, muito mais lindas e condizentes com sua recepção. Obviamente você vai querer um balde/vaso/ou coisa que o valha com espumante e lá também você colocará a cerveja (já reparou que em festa de revista 4 ou 5 garrafinhas de cerveja gelando são super suficientes?). Bebidas resolvidas.
A comida logicamente vai ser linda, escandalosamente linda. Você sai a procura de receitas lindas, mas que ao mesmo tempo sejam fáceis, práticas, viáveis, baratas… É, vai ser uma tarefa complicadíssima, já que você pretende fazer tudo sozinha e em um espaço curtíssimo de tempo. Caso você consiga montar o cardápio com esses requisitos (praticamente um milagre, vamos combinar), você estará a dois passos de ter a tão sonhada festa de revista em sua própria casa.

O resto é mandar e-mail para os amigos, fazer as compras no supermercado, montar as travessas lindas e perfeitas, colocar a música ideal, providenciar o gelo, as flores, a iluminação certa … passar a toalha antes de colocar na mesa (quem há de querer vinco na mesa impecável?), dispôr tudo lindamente na mesa, finalizar os pratos de modo que eles fiquem estrondosamente apetitosos, dar uma borrifada de aromatizador de ambiente, acender as velas e aguardar linda e loura a chegada dos seus convidados.
Ufa! Foi uma maratona, mas tudo há de valer a pena quando você, um pouco antes dos convidados chegarem, se jogar (morta) no sofá e ver que conseguiu reproduzir a festa de revista que sonhava. Agora é só curtir – se você tiver forças, claro.
Por outro lado, você pode só chamar os amigos (que trarão as cervejas de latinha e o gelo para o cooler), pode deixar todo mundo na cozinha enquanto você prepara os belisquetes e suas amigas te ajudam a arrumar a mesa – com guardanapo de papel e louça básica do dia-a-dia – e dar uma providência na loucinha da pia. A essa altura alguém já colocou uma música (que nem sempre é a ideal) e as cadeiras de plástico brancas já estão no quintal, na rodinha do povo fumante (que também já providenciou um cantinho para ir colocando as latinhas recicláveis). Flor pode ser que não tenha… mas você compensou isso caprichando na comida – e é só disso que o povo vai lembrar no dia seguinte, acredite.

É… O mundo perfeito dos editoriais pode ser perfeito lá, com uma equipe de 17 profissionais envolvidos. Só que aqui no mundo real, festa boa, mas boa mesmo, é aquela em que você não se mata de trabalhar, todo mundo se diverte, come bem, relaxa, ri muito e aproveita o tempo juntos (coisa tão rara em um mundo tão acelerado). Festa boa não é aquela em que tudo é impecável. Aliás, eu não sei vocês, mas eu ando achando o impecável absolutamente chato. Festa boa é aquela em que todo mundo se envolve, participa e não fica apenas fazendo pose com cara de paisagem. Festa boa é aquela em que talvez até algo dê errado (e é disso que você e seus amigos rirão por dias e dias) ou aquela em que talvez alguém até exagere (levemente) na bebida… Mas, nem isso há de ser problema! Afinal, como sua festa não é de revista, a garrafa de 2 litros de coca-cola estará lá a postos e a espera do primeiro sinal de ressaca – ressacas que só as grandes festas da vida real proporcionam (ou você consegue imaginar aquela moça linda da festa de revista de ressaca no dia seguinte?).
Ai ai. O mundo real também não é absolutamente delicioso? ;)
fotos: Wohn Idee