Eu estava na sala de espera do médico muito tempo atrás quando vi a Ana Maria Braga fazendo um pudim de chocolate que me encheu a boca d’água. Eu e mais duas senhorinhas que aguardavam chegamos até a comentar sobre a receita – não precisava de liquidificador, de batedeira, nada… mais prática impossível.
Peguei a receita no site e ela ficou lá, no limbo da minha To Do List (que tem umas 875342 receitas que um dia eu ainda quero fazer), até que esses dias eu resolvi que era chegada a vez dela. Comprei os ingredientes que faltavam e planejei fazer a receita no dia seguinte – e teria feito se meu ilustríssimo conjuge não tivesse visto o creme de chocolate dando sopa na geladeira e pimba! mandado pro bucho. Eu devia ter percebido que esse era o primeiro sinal, mas não.
Comprei pela segunda vez o creme de chocolate e, em mais uma tentativa, descobri que não tinha mais chocolate em pó – sabe como é…frio, chocolate quente a rodo, enfim. Era outro sinal – também ignorado. Persistente (leia-se teimosa) que sou, comprei o que faltava e me joguei na cozinha – agora ia!
De fato, o pudim é muito fácil… nada mais do que misturar muito bem com um batedor de arame todos os ingredientes: 4 potes de creme de chocolate (total 440gr), 1 lata de leite condensado, 1 colher de sopa de margarina derretida, 3 colheres de sopa de chocolate em pó e 6 gemas. Estranhei a quantidade de gemas mas… fazia sentido – alguma coisa tinha que endurecer o pudim e portanto não seria eu a questionar a quantidade das gemas que, na minha concepção, fariam esse papel.
A receita mandava colocar a mistura em forma untada, cobrir com papel alumínio e levar ao forno pré-aquecido em banho maria por 50 minutos. Okey.
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… 50 minutos depois… meu pudim continuava do mesmo jeito de quando o coloquei no forno: líquido. Tá certo, isso acontece… nem sempre essa coisa de tempo nas receitas bate com o que rola na nossa casa…normal.
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… mais 30 minutos depois e o meio do pudim continuava mole…
… mais 15 minutos e, depois de quase o dobro do tempo indicado na receita, vá lá, o pudim parecia cozido.
Agora, era só esperar esfriar e desenformar, procedimento para o qual a receita informava que era preciso esquentar ligeiramente a forma.
Segui a dica e… nada. Nem sinal de que o pudim sairia da forma. Esquentei água, coloquei numa assadeira e deixei o pudim lá. Tentei desenformar de novo e … nada. Cutuquei os ladinhos com a faca, fiz outra tentativa e… nada. Já sem muita paciência, larguei a delicadeza e tentei de novo. Nada. Maldição!
Deixei o pudim lá na geladeira e fui tomar um ar, recitar um mantra e pensar coisas positivas… eu não ia perder a boa por causa de um pudim que não desenforma, né?
Algum tempo depois, resolvi me atracar com o danado de novo. Cutuca, cutuca, deixa na água, vira e … cataplaft! Diabos! O pudim estava meio mole no meio!
Desenformou todo quebrado, todo torto, um pudim com uma vibe meio Picasso, manja? Feio. O pudim estava feio pra dedéu mas… who cares né minha gente? Afinal, o pudim era só pra “consumo interno” mesmo… era só eu ignorar o fato de que aquele bendito tinha me dado um baile e tudo ficaria bem… afinal, o que importa mesmo é o sabor, né? Danou-se.
Pense numa coisa muito, muito, muito doce. E eu não gosto de doce muito doce. Okey, eu devia ter imaginado que aquela lata de leite condensado + quatro potes de creme de chocolate ia dar nisso… porque diabos eu me peguei nessa receita meu pai? Logo eu, que não dou a mínima para doces em geral?
A resposta é simples: eu fui seduzida pelo pudim encantador e supostamente delicioso que a Ana Maria Braga me vendeu. E eu posso reclamar? Não, não posso, até porque é exatamente isso que acontece tantas e tantas vezes quando vejo programas culinários na tv, quando abro uma revista de receitas, quando visito um site de comer – somos fisgados pela imagem, pela beleza do prato… só que, como na vida, na culinária também as aparências enganam, e como enganam!
Quem sou eu pra questionar a belezura do pudim da loura da Globo, mas ó… aquele pudim linnnndo que ela fez não lembra em absolutamente nada o resultado que saiu do meu forno. E aí? Oras… E aí nada! Culinária é assim mesmo comadres – o que deu certo lá na cozinha da diva não rolou aqui na minha – pode ter sido meu forno, minha forma, minha mistura, meu dia que não estava bom, meu humor, o clima, os astros… vai saber. A textura também não ficou bacana e o sabor eu nem questiono, porque aí a parada é gosto … e gosto, sabe como é… cada um tem o seu – lá em casa eu não gostei do pudim, mas o conjuge comedor de creme de chocolate adorou – ado, ado, ado, certo? ;)
Moral da história (porque esse post já está virando uma novela): tem dias que não rola.
Ah! E se você tem síndrome de formiga e curte um pudinzinho bem doce, pode se jogar viu? Depois me conta se seu pudim desenformou lindamente e ficou bonitão como o da Ana ou Picasso como o meu? Rá! Vai que eu comprei mesmo gato por lebre né? Nunca se sabe comadre, nunca se sabe =)
* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar