delírios e outros bichos

O amor e as chaves com pernas

Ele era um cara tranquilo, inteligente, bonito e educado mas um defeito genético o impedia de ser organizado. Vivia no meio do caos e lá se encontrava. Tudo à sua volta não tinha lógica e não fazia sentido mas, insistia ele, existia beleza no caos e tendo ele alma de artista, era normal que preferisse viver cercado dela.
Ela ao contrário era controladora, metódica e com forte tendência militar. Já na infância ganhara o apelido de “general”, tal sua queda pelo controle. Sua organização era perfeita, lógica e nada fugia do seu controle (embora as más-línguas teimem em dizer que ela se permitia uma fraqueza – seus cds, que seguiam uma estranha lógica de (des)organização – mas, a verdade nunca se soube pois ela jamais admitiria tal fato).

Por um desses caprichos do destino os dois se encontraram e, na estranha balança da vida, descobriram que se compensavam. Ele bagunçou o arrumado mundo dela, enquanto ela trouxe uma certa ordem ao caos da vida dele. Era certo – eles se apaixonaram e, como acontece em toda boa história de amor, os dois já não conseguiam mais viver longe um do outro.
Foi então que uniram suas escovas de dente e repletos de amor passaram a dividir a cama que ficava agora sob o mesmo teto.

(*suspiros)

É aí que nossa história de amor água-com-açucar ganha sua primeira guinada – o romance ganha ares de mistério quando nossa mocinha apaixonada se vê diante do terrível enigma das chaves com pernas.
Como que por encanto, as chaves daquela casa sumiam todas as vezes que ela as procurava. Eram da porta, do cadeado, do carro … todas as chaves simplesmente desapareciam.
A veia militar de nossa heroína a faria investigar o mistério e a levaria à surpreendente solução do enigma – era seu amado o responsável pelo sumiço das chaves andantes. (OH!). Dizia ele que as chaves tinham forte atração pelo caos e estariam, elas mesmas, provocando deliberadamente a confusão. Negava-se a admitir que sua estranha lógica organizacional (ou a falta total dela) o levava a circular com as chaves em lugares impensáveis como o banheiro, a churrasqueira, a dispensa e lá deixá-las, causando tempos depois uma enlouquecida e insuportável caça às chaves e consequentemente uma forte dor de cabeça em nossa heroína.

Disposta a mudar o terrível e cruel destino que a deixava fadada ao desespero todas as manhãs quando tentava tirar o carro da garagem, ela comprou o acessório que colocaria fim ao sofrimento e traria novamente a paz ao seu organizado mundo – o porta-chaves. Em casa, explicou detalhadamente o funcionamento do mecanismo para seu amado – a localização estratégica do artefato, junto à porta, facilitaria ainda mais a já muito simples operação e assim, tudo estaria resolvido.

Parecia que tudo caminhava para um final feliz, como toda história de amor deve ter, mas novamente o destino, exercendo seu poder, insistia que aquele casal provaria seu amor todas as manhãs, todos os dias. Ele continuaria a perder as chaves e ela passaria seus dias a olhar o inútil acessório pendurado ao lado da porta, que um dia a fez crer que tudo estava sob seu controle.

Resignada, com o tempo nossa heroína descobriria muitas coisas com o episódio das chaves desaparecidas: que o estranho traçado do destino não pode ser controlado, que algumas características do ser amado não podem ser alteradas, que existe até uma certa (pequena, minúscula) beleza no caos, que a ditadura não é um regime válido e, principalmente, que o amor supera obstáculos… até mesmo os supostamente intransponíveis.

E assim, por enquanto eles vivem felizes para sempre.

Fim.

***

Essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com a vida real é … mera coincidência ;)
Hohoho.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

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