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delírios e outros bichos

Confissões de uma rainha

Eu não sei fazer sagu. Aliás, eu não sei nem se sagu tem ou não acento.
Okey, vá lá, eu até faço sagu e ele fica… vai, gostosinho. Meu marido gosta, eu gosto de ficar na frente da TV com um copinho, brincando com as bolinhas, mas… eu realmente não sei fazer sagu (vou considerar daqui para frente que sagu não tem acento, ok?)
Meu sagu é, digamos assim, do tipo que dá para o gasto, sabe como é? Eu sei direitinho como ele deve ser feito, sei que precisar ferver a água, botar as bolinhas, mexer de vez em quando, esperar que elas fiquem transparentes, temperar com vinho, ou groselha, cravo, talvez açucar e botar pra gelar. Bom, isso é o óbvio de fazer sagu.

Mas, não é assim. Eu obedeço toda essa ordem e mesmo assim meu sagu é… só um saguzinho. Até hoje não cheguei nem perto de preparar um sagu como o da minha avó, da minha tia, da minha mãe, e estou anos-luz de distância de fazer um sagu como o da mãe da Cassi, lá de Bento Gonçalves/RS, que prepara o sagu mais gostoso que eu já provei em toda a minha vida. Aquelas mãozinhas mágicas transformam simples bolinhas de fécula de mandioca em um doce divino. E como se isso só não fosse suficiente, ela ainda tem um plus – um creme de leite que ela faz para comer junto com o doce e quando o provei tive a impressão de ter atingido o ápice na escala-do-sagu. Dificilmente alguém vai me mostrar algo tão bom ou mesmo melhor do que aquele sagu feito por uma família tão simpática que, mesmo sem sequer me conhecerem, ao tomarem conhecimento do meu gosto pelo doce, fizeram questão de prepará-lo para mim. Além do feitio perfeito acrescente aí outro plus – carinho de monte.

Bem, voltemos ao meu sagu…

Meu sagu é gostosinho, já falei né? Sim, porque eu também não quero que vocês, leitores queridos, pensem que meu sagu é ruim. Não, não é. Ele não fica soltinho como os bons sagus, nem sempre fica no ponto certo do doce – porque sagu bom não é doooce, vocês sabem disso né? mas… ainda assim é um bom sagu.

Minha vontade de fazer o sagu perfeito também não me deixaria produzir algo muito ruim, até porque na busca pelo sagu perfeito já foram muitas e muitas panelas de bolinhas coloridas de experiência. Em uma das tentativas eu apelei até para os sagus de caixinha que eu acreditava não ter nenhuma chance de dar errado.
É, errado, errado, não deu mesmo…mas, aquela coisa que eu já disse várias vezes nesse texto repetitivo – bonzinho, e só.
No incrível mundo dos sagus for dummies eu testei todos os sabores – morango, framboesa, uva… o melhor é uva, acho eu, mas é preciso admitir que aquele pozinho artificial acaba definitivamente com a mágica de produzir sagu. E, não há sagu sem mágica na minha opinião.
As bolinhas coloridas, brilhantes, como pequenas buricas* …ah, eu acho lindo.
Quando criança eu achava que o sagu era feito de vidro, mas eu sabia que não era possível comer vidro. Eu era uma criança com muita imaginação mas desde pequena a lógica me persegue. Eu também achava que comer sagu dava poderes mágicos, como se cada bolinha me concedesse um desejo. Bem, vocês terão que me dar um desconto, oras. Eu fui criança nos anos 70 e naquela época era muito fácil fazer uma criança ser …criança. Não era preciso um computador nem um videogame. Crianças da minha geração eram criativas, sonhadores, ingênuas – como toda criança deveria ser.

Okey, já estou eu novamente viajando nesse texto, que já está meio sem eira nem beira. Tudo isso pra vir aqui apenas confessar que eu não sei fazer sagu e que cresci mas continuo acreditando que, para fazer um sagu como ele deve ser, há que se ter poderes mágicos, que eu infelizmente não tenho.

Na falta dos poderes mágicos eu vou cedendo às tentações modernas. É duro dizer mas… esse sagu aí é de caixinha, feito apenas com metade daquele pozinho que parece ki-suco e um tanto de vinho merlot. Ficou …bom, mas já sabe né? Ficou só bom. E um sagu não pode ser só bom – ele tem que ser … mágico.

* post originalmente publicado no blog Rainhas do Lar

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